Domingo de manhã. Ressaca. Heavy, nua e frontal. Ressuscito e resolvo tentar por algo no estômago. Meu amigão velho de guerra não me decepciona e agüenta a metade do cachorro quente de ontem. Quando mais ou menos recuperado, resolvo visitar um velho amigo que o tempo, a falta de vivência e cagadas de ambos os lados afastaram de mim. Ele mora longe, sendo que decido pegar um ônibus. Faz tempo que não o vejo, e um certo embrulho no estômago me faz pensar que tipo de impulsividade me fez tomar essa decisão.
Ao chegar na casa dele, toco a campainha, sem saber se vou encontrá-lo ou não. Ele abre a porta e antes que diga alguma coisa, eu me adianto:
- Mishkin...
- Kirilov! Entra Campe...
Era um tanto quanto constrangedor, ou não, mas a coisa acontecia. Ele resolveu quebrar o gelo:
- Não esperava sua visita.
- Espero não estar atrapalhando nada.
- Não, ia ficar por aqui coçando mesmo. A que devo a visita?
- Nada de especial, estava por aqui. E resolvi vir para conversarmos.
- Sobre?
- ... nada de especial.
- Senta Fernando, vou pegar uma cerveja.
“Nada como uma boa gelada pra curar a ressaca”, pensei comigo mesmo. Meu amigo voltara com duas long necks já abertas, na qual eu tomei um longo gole, e senti uma leve ânsia, ao mesmo tempo que sentia meu estômago se assentar e então a cerveja ficara doce.
- Então Campe, como tá o trabalho?
- Ta bem cara, ta legal. Às vezes cansa um pouco, mas é tranqüilo.
- Uhum...
O silêncio era constrangedor, e a tensão era palpável. Resolvi jogar tudo à merda.
- Escuta Mishkin...
- Depois de todo esse tempo ainda me chamas de Mishkin.
- É. Escuta, sabes que gosto de ti pra caralho né?
- Eu também Campe.
- Pois é, e nos afastamos muito um do outro.
- Eu me comportei como um canalha muitas vezes, tu começou a ter outras perspectivas de vida. O tempo é assim meu caro, muda, distorce, corrói, melhora, mata, renasce... mas nunca volta atrás.
- Mas tu era um exemplo pra mim cara, alguém o qual eu queria ser igual.
- E?
- E...
- Fala porra!
- E tu começou a se comportar de uma maneira que contrariava tudo o que dizias, e aquilo começou a mudar a maneira como te enxergava...
- E você abandonou muitas coisas da sua vida as quais considerava importantes.
- Realmente. Como você mesmo disse, o tempo é implacável. Sabes que mesmo de longe, ainda te considero um irmão.
- Eu também Kirilov.
Me levantei, fora rápido mas não queria mais conversar.
- Acho que devíamos abandonar Mishkin e Kirilov – disse eu.
- Por que?
- Prefiro Dean e Sal.
- Moriarty e Paradise. É, é bom.
- Tô indo então Sal.
- Já, Dean?
- Já. Um pouco de cada vez.
Abracei-o. Sabia que a amizade nunca mais seria a mesma, mas um recomeço era sempre melhor que um término.
Já no ônibus, indo embora, pensava que bar estaria aberto para que eu pudesse continuar a curar minha ressaca.
2 comentários:
tmabém acho, um recomeço é melhor que um término
pena que depende dos dois lados.
:(
esse blog é muito deprimente.
não é ruim, mas é triste
porraaa
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