segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Vinte e três

Vou trabalhar na segunda de manhã, e depois de muito tempo, sem estar de ressaca. Como é bom acordar depois de uma noite limpa, sem o álcool ou qualquer outra coisa atrapalhando o sono. “Tenho que beber menos”, penso comigo mesmo, mas logo depois já esqueço disso e vou para o banho.

Chego no bar e sou avisado que temos reunião com o Damião, chefe dos garçons. Estamos todos lá, Eu, Haroldo, Roberta, Amanda e o Wagner. Esse último era um cara que trabalhava conosco mas não se dava com ninguém. Tinha não só o rei na barriga, mas também a rainha, o castelo, e até o bobo da corte. Vestia-se como se fosse o maitre de algum restaurante caríssimo, com suas roupas sociais (inclusive colete!), enquanto os demais invariavelmente estavam de calças jeans e tênis. Além disso, pensava ser melhor que todos, e se achava o machão do local. Nada de anormal, encontra-se milhares desses tipos por aí.

- Pessoal – era nosso chefe quem falava – coisinha rápida, por favor, vamos nos aproximar para algumas observaçõezinhas. Primeiro de tudo, gelo. Quando forem servir gelo para os clientes...

Sabendo o que viria pelos próximos 10 minutos, logo comecei a pensar em outras coisas. Para não deixar transparecer minha distração, fiquei de cabeça baixa e balançando a cabeça, como se estivesse concordando com tudo o que estava sendo dito, e nisso, reparei no sapato do Wagner. Era um sapato preto com detalhes em branco, e lembrava aqueles calçados que se ganha em pistas de boliche.

- Roberta – cutuquei-a de leve e falava baixo – olha o sapato do Wagner, que coisa ridícula.

Ela olhou e contraiu os lábios, para não deixar escapar a risada. Eu continuei:

- Será que ele joga boliche depois do expediente? Só pode...

Roberta, que era uma menina concentrada no trabalho, meu deu uma leve cotovelada e falou baixinho, rindo:

- Quieto Campe, presta atenção!

- Será que os dois podem parar de atrapalhar a reunião com essas gracinhas?

Imediatamente olhei para o Damião, pronto para pedir desculpas, mas vi que ele olhava com um ar surpreso para o Wagner, que me encarava com um olhar superior. Só então me dei conta que tinha sido a voz dele que eu tinha ouvido. Olhei para o chefe e ele nada disse, apenas ficou me olhando como se esperasse minha reação.

- Wagner, quando eu me dirigir a você, daí tu podes falar comigo. – fui grosso e categórico.

- Mas vocês estavam atrapalhando a reunião! – o tom dele continuava sendo de superior.

- A hora que o meu chefe reclamar, eu vou saber se estou atrapalhando ou não.

Então ambos olhamos para o Damião, que simplesmente disse:

- Eu já falei o que tinha que falar. Reunião encerrada, agora se acalmem. – e dizendo isso, saiu.

Voltei meu olhar para Wagner e ele estava me encarando. Sustentei o olhar até que ele baixasse e virasse para ir embora. Quando ele fez isso, peguei-o pela parte traseira da gola da camisa, virei-o pra mim e enfiando o dedo na sua cara, falei:

- Escuta aqui seu moleque (ele era um mês mais novo que eu) de merda! Não vá pensando que eu tenho medo de cara feia, ainda mais de um fedelho que nem você.

Ele se desvencilhou de mim, e quando ia falar alguma coisa, virei de costas e fui ao banheiro, deixando-o falar sozinho.

Chegando no banheiro masculino, vi que as roupas que ele usava para vir ao trabalho estavam lá penduradas, então depois de mijar, limpei meu pinto na camiseta dele. Ninguém esperaria nada diferente de mim.