quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vinte e Dois

Acordei em algum lugar estranho que eu não sabia onde era. Estava de bruços na cama, e na lateral desta havia um criado mudo com uma foto. No retrato estava uma senhorinha simpática, de aproximadamente 80 anos, com cabelos brancos, óculos de aro redondo, e um grande e gordo gato cinzento no colo. Estava com medo de olhar quem estava do meu lado na cama.

- Calma Campe, é minha avó, você não dormiu com ela! – e uma sonora risada encheu o ar.

Prontamente me virei e olhei quem era. Aquele cheiro só podia ser dela.

- Amanda?!?

Ela riu mais uma vez e me fitava com uma cara de quem se divertia muito. Sentei na cama de frente para ela, e senti o mundo rodar. Corri para o banheiro.

Após alguns esforços e alguns gargarejos, volto para a cama. Algumas peças do quebra-cabeça começavam a tomar forma na minha cabeça. Festa de encerramento do bar, eu e uma garrafa de scotch juntos...

- Bebeu todas não é neguinho?

- É... Eu já avisei que não é pra me deixar perto do whisky.

Só então eu percebi. Estava de cueca. Só de cueca. Amanda estava de pijama, mas ela parecia estar a bem mais tempo acordada, até televisão ela estava assistindo.

O cheiro de Amanda me inebriava, assim como suas pernas, que estavam de fora e eram tão convidativas.

- Olha, até que eu não tava tão ruim ontem a noite... – ao menos eu tentava me convencer disso.

- Tu acha?

- É, olha só, nem deixei a camisinha usada no chão, devo ter levado no lixo do banheiro.

- Nós não usamos camisinha Campe...

- Não??? E você ta tomando pílula Manda?

- HAHAHA – a risada veio ainda mais alta e preencheu ainda mais o quarto.

- Que foi? – realmente não estava entendendo nada.

- Campe, o que te leva a pensar que nós transamos?

- Eu me lembro de entrarmos aqui nesse quarto nos beijando.

- Sim, você e esse seu charme maldito, assim como seu beijo maldito. Se arrependimento matasse... Realmente entramos nos beijando. Você tirou a roupa, deitou na cama, e DORMIU!

- ...

- Sim, Fernando Campelo, sim. Dormiu! E ainda roncou a noite toda.

Peguei a coberta e me enfiei debaixo dela. Eu não podia acreditar. Perdi uma ótima oportunidade de ficar quieto. Entretanto, logo me recuperando, e usando da minha usual cara de pau, saí de debaixo da coberta, e olhando para Amanda com minha sobrancelha esquerda levemente arqueada, fui me aproximando lentamente dela:

- Mas o que você falava mesmo do meu maldito beijo? – e comecei a subir a mão pela perna dela.

- Pode parar! – ela tirou a perna de onde estava, e se afastou – Não estou mais tão bêbada, e além do quê, estamos atrasados pro trabalho.

- Ah Manda... Vem cá vem... – eu estava sendo inconveniente, e sabia disso.

- Campe. Você ficou a noite inteira chamando a Clara. Sossega, seu bêbado chato.

Ela realmente sabia estragar o dia de alguém.

E eu mereci essa.