Chegando em casa e abrindo uma long neck, recebo uma ligação:
- Campe! - sim, sou eu também – que tu vai fazer hoje?
Era Robert, um grande amigo. Não combinávamos em muitas coisas, mas tínhamos vontades de viver que não se contrastavam em demasia.
- Não sei cara! Estou pensando em dar um tempo em casa mesmo.
- Pára! Tem o aniversário do Jaime! Lá naquele bar que fomos a uns sábados atrás!
Não gostava do Jaime e nem do tal bar. Música ruim, mulheres esnobes e homens sempre querendo brigar por algo que não valesse a pena, mas gostava de Robert, e sempre era divertido sair com ele. De mais a mais, ele me admirava quando o assunto era quantidade de bebida.
- Beleza, me pega aqui em casa às 9:00!
Tomei um banho e meia hora depois do combinado, escuto a buzina e um grito:
- Vamo cavalo!
O carinho das pessoas sempre me emociona.
Entro no carro, com duas latas de cerveja e com a trilha sonora já programada:
- Robert! Escuta essa cara! Do nosso velho tempo de guri!
Robert eu e mais alguns amigos tínhamos uma banda quando por volta dos nossos dezesseis, dezessete anos. O bom e velho punk-hardcore comia solto.
Porra! Era tudo doido da porra no kombão!
E assim começamos aquela noite. Jaime ainda não havia ligado, então não sabíamos quando exatamente ir, por isso decidimos rodar pela noite. Além do mais, precisávamos abastecer o carro e a nós mesmos. Assim que as latas ficaram vazias, paramos em um posto, onde voltei para o carro com três garrafas. Duas para mim e uma para Robert. Se comprasse duas pra ele, uma esquentaria. Eu não corria esse risco.
Com a demora da ligação do imbecil do Jaime, estávamos cogitando ir a outro lugar, onde rolasse um bom e velho rock’n’roll. Para Robert tanto fazia, desde que existissem mulheres para que ele olhasse e tentasse chegar junto. E nessa longa rodada, parávamos em quase todos os postos do caminho, e aquela cerveja foi descendo redonda, enquanto o som penetrava em nossos tímpanos querendo arrebentá-los, estuprá-los, e nossas gargantas berravam, com toda a fúria que nossa juventude queria, e a velocidade vinha nos abençoar com sua distorção das coisas, e eu olhava para Robert e via um pedaço da minha adolescência, e entendia várias idéias que tive um dia e fiz questão de esquecer, e conforme o baixo e a caixa aumentavam em um ritmo frenético, assim ia nossa adrenalina, nossa bebedeira e a velocidade do carro.
- Preciso mijar!
- Espera eu achar um lugar legal.
Entramos numa rua sem saída, onde no fim desta tinha um terreno baldio. Desci do carro, aquele rockão fudido ao fundo e pisei na grama. Quando senti meu pé afundar de leve, olhei para baixo e vi que pisava numa espécie de plantação de morangos, que não dava fruto nenhum, e era tão incrível pisar naquilo, destruindo aquelas plantas, enquanto me livrava daquela cerveja indesejável, liberando espaço para cerveja mais nova, e tudo aquilo se desenrolava de uma forma engraçada na minha cabeça.
- Robert! Olha aqui cara! A grama parece a porra de um morangueiro!
- Cala a boca Campe... – ele mijava na roda do carro, atordoado.
- Cara! To mijando num morangueiro...
Era incrível a sensação de liberdade e onipotência que sentíamos bêbados e loucos em nossa noite pela cidade. A velocidade, a bebida, a música incessante e pesada nos transformava em deuses que simplesmente bebiam e paravam em postos para reabastecer sua divindade profana.
A noite terminara em eu voltando a pé pra casa, após uma briga com o Jaime, parando numa barraca de cachorro quente às cinco da manhã, pagando um real por cheddar extra. Por sorte era um sábado e eu não trabalhava no domingo.
3 comentários:
haha
sei exatamente os rostos dos personagens, é incrível!
mas ta crazy, continua!
=D
birnes.blogspot.com
;*
esse já conheço, agora quero as novidades.
hahaha
mas tá bom de ler, tá bom de ler.
beeejos
Porra, não me vá desanimar de escrever! Tu sabe q ninguém nunca comenta.
Escreve mais! =D
;*
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