quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Quatro

Chegando em casa e abrindo uma long neck, recebo uma ligação:

- Campe! - sim, sou eu também – que tu vai fazer hoje?

Era Robert, um grande amigo. Não combinávamos em muitas coisas, mas tínhamos vontades de viver que não se contrastavam em demasia.

- Não sei cara! Estou pensando em dar um tempo em casa mesmo.

- Pára! Tem o aniversário do Jaime! Lá naquele bar que fomos a uns sábados atrás!

Não gostava do Jaime e nem do tal bar. Música ruim, mulheres esnobes e homens sempre querendo brigar por algo que não valesse a pena, mas gostava de Robert, e sempre era divertido sair com ele. De mais a mais, ele me admirava quando o assunto era quantidade de bebida.

- Beleza, me pega aqui em casa às 9:00!

Tomei um banho e meia hora depois do combinado, escuto a buzina e um grito:

- Vamo cavalo!

O carinho das pessoas sempre me emociona.

Entro no carro, com duas latas de cerveja e com a trilha sonora já programada:

- Robert! Escuta essa cara! Do nosso velho tempo de guri!

Robert eu e mais alguns amigos tínhamos uma banda quando por volta dos nossos dezesseis, dezessete anos. O bom e velho punk-hardcore comia solto.

Porra! Era tudo doido da porra no kombão!

E assim começamos aquela noite. Jaime ainda não havia ligado, então não sabíamos quando exatamente ir, por isso decidimos rodar pela noite. Além do mais, precisávamos abastecer o carro e a nós mesmos. Assim que as latas ficaram vazias, paramos em um posto, onde voltei para o carro com três garrafas. Duas para mim e uma para Robert. Se comprasse duas pra ele, uma esquentaria. Eu não corria esse risco.

Com a demora da ligação do imbecil do Jaime, estávamos cogitando ir a outro lugar, onde rolasse um bom e velho rock’n’roll. Para Robert tanto fazia, desde que existissem mulheres para que ele olhasse e tentasse chegar junto. E nessa longa rodada, parávamos em quase todos os postos do caminho, e aquela cerveja foi descendo redonda, enquanto o som penetrava em nossos tímpanos querendo arrebentá-los, estuprá-los, e nossas gargantas berravam, com toda a fúria que nossa juventude queria, e a velocidade vinha nos abençoar com sua distorção das coisas, e eu olhava para Robert e via um pedaço da minha adolescência, e entendia várias idéias que tive um dia e fiz questão de esquecer, e conforme o baixo e a caixa aumentavam em um ritmo frenético, assim ia nossa adrenalina, nossa bebedeira e a velocidade do carro.

- Preciso mijar!

- Espera eu achar um lugar legal.

Entramos numa rua sem saída, onde no fim desta tinha um terreno baldio. Desci do carro, aquele rockão fudido ao fundo e pisei na grama. Quando senti meu pé afundar de leve, olhei para baixo e vi que pisava numa espécie de plantação de morangos, que não dava fruto nenhum, e era tão incrível pisar naquilo, destruindo aquelas plantas, enquanto me livrava daquela cerveja indesejável, liberando espaço para cerveja mais nova, e tudo aquilo se desenrolava de uma forma engraçada na minha cabeça.

- Robert! Olha aqui cara! A grama parece a porra de um morangueiro!

- Cala a boca Campe... – ele mijava na roda do carro, atordoado.

- Cara! To mijando num morangueiro...

Era incrível a sensação de liberdade e onipotência que sentíamos bêbados e loucos em nossa noite pela cidade. A velocidade, a bebida, a música incessante e pesada nos transformava em deuses que simplesmente bebiam e paravam em postos para reabastecer sua divindade profana.

A noite terminara em eu voltando a pé pra casa, após uma briga com o Jaime, parando numa barraca de cachorro quente às cinco da manhã, pagando um real por cheddar extra. Por sorte era um sábado e eu não trabalhava no domingo.

3 comentários:

Kindex disse...

haha
sei exatamente os rostos dos personagens, é incrível!


mas ta crazy, continua!
=D


birnes.blogspot.com
;*

terrenobaldio disse...

esse já conheço, agora quero as novidades.

hahaha

mas tá bom de ler, tá bom de ler.

beeejos

Kindex disse...

Porra, não me vá desanimar de escrever! Tu sabe q ninguém nunca comenta.

Escreve mais! =D
;*