terça-feira, 16 de outubro de 2007

Oito

Não fora uma simples gargalhada, começara com uma risada muda, convertera-se em uma tosse surda, e acabara em um gargalhar alto, cortante.

- Campe! Morar juntos? De onde tirou isso, meu fofo?

Levantei e comecei a me vestir. Algo parecido com choro me embargou a voz.

- Nada, esqueça, foi só uma coisa que pensei – minha voz era séria, e demonstrava meu estado de espírito no momento. Algo que eu não desejava que acontecesse.

- Ah, ficou brabinho, foi? Vem cá vem, eu cuido de ti meu menino... – sua voz era doce, eu via que ela não estava querendo me prejudicar, porém não havia mais clima.

- Não Clara, preciso ir. Amanhã trabalho cedo.

- Isso nunca foi impedimento pra ti.

- É, mas hoje estou cansado – me aproximei dela e beijei-lhe a testa – tchau.

Enquanto saía, dei uma última olhada para trás, vi uma lágrima correr-lhe do olho, enquanto tirava um papelote branco da bolsa, junto com um cartão e uma nota de dez, e despejava o pó branco do papelote no criado-mudo e começava a preparar uma carreira. Fiquei preocupado se as lágrimas não cairiam sobre o pó.

Quando na rua, as lágrimas escorriam pela minha cara, e eu as enxugava freneticamente com as costas da mão, enquanto lembrava daquela gargalhada que tivera o mesmo efeito de um punhal enferrujado no rim. Perto de casa, um bar ainda estava aberto, resolvi parar pra tomar uma...

Dia seguinte acordei de ressaca, leve, mas de ressaca. A tristeza era pior que o efeito da cerveja no meu corpo. Como pudera ela rir daquele jeito?

Girl, I’m sorry, but I’m leaving

We both have fault, we bolt to blame…

Nos meus fones de ouvido, só músicas tristes. Na minha cabeça não pensava mais em ver Clara. Aquela situação toda de tê-la e não tê-la não me fazia bem. Eu a amava, e a queria só pra mim. Era um egoísmo da minha parte, mas era o que eu queria. Querer ir contra o que sentimos às vezes é muito complicado, a razão não é muito forte quando mais precisamos dela.

Uma semana passou, o trabalho no bar me ajudava a espairecer um pouco, e minhas bebedeiras noturnas solitárias ajudavam mais ainda. Nenhuma notícia de Clara. Ela não era de ligar, nem dar notícias. Eu também não iria fazer isso. Não dessa vez.

Eu vou rolar com os bêbados, pelas ruas imundas;

sob um céu de blues...

Baby, aonde está você, aonde você foi?

Eu me sentia péssimo, e não entendia o porque disso. Não era de sofrer assim por uma mulher. Me sentia triste, solitário, mas não sofria. Um dia desses, depois do trabalho, toca meu telefone:

- Campe? – era ela.

- Sim Clara, diga.

- Por que foste embora daquele jeito?

- Nada, tinha que dormir.

- Te conheço. Fala pra mim.

- Riste dos meus sentimentos de uma maneira que nunca imaginaria. Fiquei magoado.

- Me desculpa, mas me pareceu tão absurdo... Sabes muito bem que não é isso que eu quero.

- Pois é Clara, mas é o que eu quero. Te amo e quero viver contigo, ao menos tentar.

- Nando... Não sei se daria certo.

- Nem eu.

- Mas sinceramente não posso fazer isso, iria contra eu mesma.

- Então tá. Prefiro que não nos vejamos mais então.

- Tens certeza disso?

- Não, mas é o que eu penso.

- Se mudares de idéia, sabe onde me achar.

- Não mudarei. Tu és perfeita pra mim. Se não posso te ter por completo, prefiro não ter nada.

- Quanto egoísmo de sua parte.

- Descobri este lado recentemente.

- Eu gosto de ti Campe!

- E eu te amo – desliguei o telefone.

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