quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Vinte e seis

Estávamos eu e Clara a beber uma noite qualquer no apartamento dela, eu, com o bom e velho Cutty Sark com água e ela, vodka. De repente, a campainha toca. Clara levanta e abre a porta, era sua amiga Lúcia, aos prantos:
- Clara! O Fábio me deixou!
Lúcia era uma moça com o famoso “fogo no rabo”. Não que eu seja algum tipo de moralista, mas Lúcia realmente não era muito presa a nada. Ela namorava com o tal do Fábio há tempos, e mantinha vários outros casos por tabela. Eu até imaginava o porque de eles terem terminado. Como eu falei, não sou um promovedor dos bons costumes, mas tem coisas que a gente entende nos outros. Para Clara, era apenas vontade de viver em demasia, e ela gostava de Lúcia por causa disso.
- Entra Lú, senta, se acalma...
Percebi que nossa noite de beber e escutar música estava acabada, agora seria a noite da choradeira.
- Ai gente, obrigada! Ele disse que nunca mais queria me veeeeer! – e lágrimas vertiam.
Aos poucos, começamos a fazer com que ela tomasse algum anestésico moral (vodka), e aos poucos foi se acalmando. Eu, por minha vez, tinha alguns charutos em casa, e acendi um enquanto escutava a conversa das duas.
- Lú, não fica assim, homens são todos iguais...
- Não são não! Olha o Campe! Vocês estão sempre juntos, ele te trata tão bem. Ta que ele bebe um pouco, mas...
Demorou pra sobrar pra mim, mas mesmo assim, resolvi dar a minha contribuição:
- Não se engane Lú, de santo, tenho só a cara – e dei um sorriso que beirava ao simpático.
Algum tempo depois, ela já falava um pouquinho mais arrastado, mas o assunto era o mesmo:
- Ai, Fábio... Por que eu não tenho um homem bom como o Campe, Clara?
Eu e ela apenas nos olhávamos e ríamos um para o outro com o olhar. Mais algum tempo depois, ela já estava apenas resmungando e com o farol baixo:
- Gente, preciso dormir...
- Campe, leva ela pro quarto de hóspedes? Eu vou lá pegar um balde pra deixar do lado da cama dela, pra qualquer emergência noturna.
Levantei e coloquei o braço esquerdo dela por cima dos meus ombros, servindo de apoio para o andar trôpego dela:
- Ai Campe! – e deu um beijo em meu pescoço – quando eu vou arranjar um homem como você?
- Lú... já te falei que...
Com um golpe de corpo, ela me empurrou contra a parede e colou seu corpo ao meu, enfiando sua língua em minha boca e sua mão na região da minha virilha. Pego de surpresa com isso, demorei cerca de três ou quatro segundos para tirar a mão dela de lá e, puxando seu ombro direito, descolando-a de mim.
- Não Lú.
- Por que Campe?
- Lú, não seria o momento, o dia, ou mesmo o ano certo...
Deixei-a na cama, e ela imediatamente dormiu. Ao me virar para sair, dou de cara com Clara.
- Faz tempo que você tá aí?
- O suficiente.
- Escuta, não foi culpa minha...
- Sim, eu vi, como te falei, foi o suficiente. Você não fez nada, mas ela... Amanhã vou ter que falar com ela!
Olhei inquisitivamente pra ela:
- Falar por que?
- Ora Campe! Como por que? Ela te agarrou!
- E daí?
- Como assim e daí? Ela te agarrou! Meu namorado, na minha casa!
- Clara, ela tava bêbada e...
- Isso não é desculpa!
- E como eu tava falando, ela sempre foi assim. Tu sabes disso, tu até gosta disso nela.
- Sim, mas...
- Por que ela teria que mudar o jeito dela por ti? Essa é a essência dela. Tu, como uma boa amiga, tem que aceitá-la do jeito que ela é. Deverias ficar braba se eu tivesse continuado, e braba comigo ainda por cima...
Clara parou, pensou:
- Mas tu até que gostou né?
- E quem não gostaria de ser agarrado pela Lú? – ri – Eu ainda tenho alguns goles de Cutty, e dá tempo de ouvirmos alguma coisa, vamos?
- Vamos, vamos sim...




Um comentário:

Douglas Neander disse...

Empurrar a amiga é para os fracos.