domingo, 11 de maio de 2008

Dezessete

Era uma quarta (ou seria segunda? tanto faz) a noite e lá estava eu sentado em minha casa, ouvindo algo bom e bebendo alguma coisa amarga com graduação alcoólica acima dos trinta por cento. Dentro deste momento de paz comigo mesmo, chega meu amigo Aureliano, que era sempre bem-vindo.
- Fala Campe! Qual é a boa?
- Olha Arcádio - era um trocadilho horrível que pouca gente entendia e só eu gostava. Por isso mesmo usava – ainda não sei. To meio baleado e tenho que trampar amanhã cedo.
- Ah, pára! Vamos sair, tô com uns esquemas aí. Vamos na casa de uma amiga minha!
Conhecendo o Aureliano até já imaginava que tipo de amiga seria. Mas, vendo ele minha hesitação e me conhecendo bem, logo falou:
- É aquela menina que eu conheci naquela festa semana passada!
- Que festa? – memória boa não é algo presente em mim. Álcool em demasia, creio eu, mas quem bebe pra lembrar?
- Aquela na casa daquele cara que você e o Josias ficaram esperando o cara embaixo do prédio dele com dois paralelepípedos nas mãos... E isso porque ele encheu o copo de vocês pela metade.
Lembrava de algo assim. E acho que lembrava da menina.
- Não era aquela de blusa rosa escrita “alguma coisa fofa” girl, que parecia um pogobol né?
- Não! Essa tava dando em cima de ti, lembra?
- Ih caralho, é verdade!
- Então, era a que tava na turma do lado da gente ali.
- Ah! Uma de blusa prateada? – nem sei se tinha alguém de blusa prateada.
- Não, não era a feia – e não é que tinha? – era a bonitinha. Não era a loira suicida, era a que tava vomitando no dia...
- Hum, acho que sei – não tinha a mínima idéia, mas não tava a fim de ficar naquela agonia de rememorar e ficar naquele sofá amnésico por mais uma meia hora ou mais, discutindo detalhes nem um pouco importantes.
- Então, vamos lá?
Não tendo nada melhor pra fazer, fui.
No caminho eu e Aureliano fazíamos a via sacra, parando de posto em posto para comprar cerveja, e olha que a casa dela era longe.
- Chegamos Campe – disse o meu singelo amigo todo animado, estacionando na frente de um prédio.
- Hum, legal – eu estava com sono, e praticamente embriagado.
Chegamos na portaria e ele pediu para o porteiro:
- Susana do 215, por favor.
O porteiro com uma cara de sacana, nos olhou de alto a baixo e, com aquela boca que sempre cospe ao falar, disse:
- Hum. São os amiguinhos de hoje?
Nós dois ignoramos o comentário. Era isso ou espancar o cara.
Ao chegar na porta do apê, ela já nos esperava:
- Oi rapazes, entrem – deu um beijinho no rosto de cada um – ali tem cerveja e uísque, fiquem a vontade.
Aureliano foi direto na cerveja enquanto eu preferi o 8 anos, que no caso presente, não passava de 4 anos. Vai assim mesmo.
Ela estava no quarto e gritou:
- Sentem e fiquem a vontade, já estou chegando.
Ao fundo tocava algum tipo de música eletrônica lenta ruim, e a iluminação estava à meia-luz. Aquilo tudo era muito estranho, mas como meu eterno parceiro estava curtindo à beça, fiquei quieto.
Nisso, ela sai do quarto.
De calcinha, sapato de salto alto, algo parecido com um baby doll e dançando alucinadamente, vindo pra cima do Aureliano, e me deixando sem entender mais nada.
Resolvi beber mais.
Quando me dei conta, ela estava sem a calcinha sentada na cara dele, em movimentos pélvicos, e por mais estranho que pareça, aquilo não me excitava, eu só tava meio perdido. Nisso, ele tira a cara de lá e diz:
- Agora é a vez do Campe, vai!
Nisso ela vem e abre as pernas em cima de mim, colocando minha nuca contra o encosto do sofá.
Ok, ela tinha uma bunda esculpida a mão, e pernas melhores ainda, mas eu nem a conhecia, e o Aureliano tinha acabado de lamber tudo por ali.
- Isso é hora de ter nojo? – pensei comigo mesmo.
E fui.
Fiquei ali por uns 25 minutos – na verdade não devem ter sido 3, mas deixa pra lá – quando ela sai de cima, vai pra frente de nós dois dançando e diz:
- Tá garotos, agora o resto tem que pagar mais 150 reais.
A ficha caiu. Estávamos numa zona. Santa ingenuidade Batman!
- Não, acho que vamos ficar por aqui mesmo – disse Aureliano – bora Campe?
- Ah não! – ela gritou – antes vocês tem que me pagar o strip!
- Paga ela aí Campe...
Filho da puta! Eu tinha cinco reais no bolso!
- Porra Arcádio! To sem grana cara!
- Eu também...
- O que? – ela se transformara – vou ligar já pro Amadeu!
Resolvi não ficar lá pra descobrir quem era o Amadeu, num pulo, levantei e abri a porta, e corri, ouvindo os passos pesados de Aureliano atrás. Apesar de estarmos no sexto andar, fomos pela escada e quando chegamos fora do prédio, ouvíamos ela berrando pela janela:
- Filhos da puta! Eu acho vocês! Mando matar.
Entramos correndo no carro, e assim que arrancamos, eu só conseguia dizer:
- Caralho! Seu merda! Puta que pariu! – e demais coisas do tipo.
Aureliano ria, ria como nunca, com todos aqueles seus dentões para fora.. Me dei por vencido e comecei a rir também. Ele era um filho da puta, mas era o meu filho da puta.
E seguimos pela noite, como em tantas outras, como anjos bêbados e loucos, errando dentro da nossa pureza, e deixando nossa consciência se acertar com o nosso desejo.

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